Reforma Tributária e rotinas contábeis: o que muda o dia a dia do contador
Entenda como a unificação de tributos e outras mudanças afetam o dia a dia do contador.
A Reforma Tributária está prestes a transformar profundamente a rotina dos profissionais de contabilidade no Brasil. Com a unificação dos tributos PIS, COFINS, ICMS e ISS em dois novos impostos — a CBS e o IBS — o sistema se torna mais padronizado, reduzindo divergências entre legislações estaduais e municipais e aumentando a transparência na apuração.
Na prática, isso significa adaptação de processos, atualização de sistemas, revisão de procedimentos fiscais e uma nova dinâmica na relação com clientes e com o Fisco. O contador não será apenas impactado: ele será protagonista do processo de transição.
Mas, afinal, o que realmente muda no dia a dia do contador?
A simplificação do sistema tributário traz mudanças diretas na gestão contábil das organizações.
A unificação dos tributos sobre consumo reduz o número de regras, declarações e interpretações divergentes, diminuindo o tempo dedicado ao cumprimento de obrigações acessórias e mitigando riscos de erros.
Contudo, o período de transição exigirá atenção redobrada: os contadores terão que operar simultaneamente o modelo atual e o novo, garantindo conformidade e efetuando revisões constantes de parametrizações.
Leia também: “O que muda no PIS com a Reforma Tributária?”.
Além disso, a introdução da não cumulatividade plena no IBS e na CBS demanda ajustes na estrutura de controles internos, com maior rigor na documentação e na rastreabilidade dos créditos.
Sistemas ERP, parametrizações fiscais e rotinas de conferência precisarão ser revisados, impondo às empresas investimentos técnicos e treinamento das equipes.
Portanto, mesmo com um cenário futuro mais simples, o papel da contabilidade se torna ainda mais estratégico durante a adaptação ao novo modelo tributário.
Saiba o que muda a partir de 2026 em: “Reforma tributária 2026: cronograma tributário e o que você precisa saber ainda este ano”.
O novo modelo de tributos sobre consumo: IBS e CBS
A Reforma Tributária substitui os tributos atuais PIS, COFINS, ICMS e ISS, por dois novos impostos:
- CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), de competência federal
- IBS (Imposto sobre Bens e Serviços), de competência compartilhada entre estados e municípios
Ambos são inspirados no modelo IVA (Imposto sobre Valor Agregado), já adotado mundialmente.
- Incidem sobre consumo
- Permitem créditos em todas as etapas
- Atuam com cobrança no destino, onde ocorre o consumo
Isso reduz a guerra fiscal e padroniza a legislação, o que tende a diminuir o esforço operacional do contador no médio prazo.
Conheça os novos impostos em: “Reforma tributária: CBS, IBS e Imposto Seletivo (IS)”.
Fim do ICMS, ISS, PIS e Cofins: o que muda na apuração
Com a chegada do IBS e da CBS, em substituição ao ICMS, ISS, PIS e Cofins, a apuração dos tributos sobre consumo passa por uma importante transformação.
Saiba como o Cofins será extinto em: “Reforma Tributária: como será feita a extinção da Cofins”.
O que hoje exige diferentes legislações, regras estaduais e municipais, regimes especiais e operações específicas, passa a ser tratado em um modelo único de cálculo, com menos variações e exceções.
A principal mudança está na não cumulatividade plena, que permitirá o aproveitamento de créditos em todas as etapas da cadeia, reduzindo a tributação em cascata e simplificando o controle dos saldos. Isso elimina grande parte das discussões atuais sobre o que gera ou não crédito, especialmente no PIS e na Cofins.
Outra diferença relevante é a cobrança no destino, que dispensa complexos mecanismos de substituição tributária e antecipações de ICMS. Com regras mais uniformes, a conferência das operações torna-se menos interpretativa e mais automatizável.
Leia no ClickNotas: “Reforma Tributária: quais impostos serão extintos?”.
Adequação dos sistemas contábeis e fiscais
A mudança exige que as empresas revisem:
- Sistemas de emissão de notas
- Parametrizações da escrita fiscal
Além disso, os dois regimes coexistirão durante a transição, o que torna o processo ainda mais crítico.
Equipes de TI e contabilidade deverão atuar lado a lado para evitar:
- Paralisações no faturamento
- A automação será uma grande aliada — desde que bem configurada.
O que muda na escrituração e apuração de tributos
A escrituração passa a ser mais objetiva, uniforme e automatizável. A correta identificação das operações será essencial para o cálculo e o aproveitamento do crédito fiscal.
Mas a transição irá exigir:
- dupla escrituração
- acompanhamento das regras atuais e novas
- conciliações mais frequentes
- maior rigor documental
Ou seja: trabalho dobrado antes de ficar mais simples.
Saiba tudo sobre o SPED Fiscal em: “Manual SPED Fiscal para empresas: tudo o que você precisa saber”.
Apuração unificada de IBS e CBS
A apuração dos tributos sobre consumo passa a seguir uma lógica unificada e mais padronizada.
Ambos os impostos terão características semelhantes, como a não cumulatividade plena, o que facilita o entendimento das regras e a operacionalização nos sistemas fiscais das empresas.
A apuração será feita a partir do confronto entre débito nas vendas e crédito nas compras, com regras mais claras sobre o direito ao crédito em todas as etapas.
Isso tende a reduzir discussões fiscais e complexidades relacionadas a regimes especiais, cumulatividade e substituição tributária.
Além disso, a centralização das informações em um bom ERP permitirá maior integração e automação das rotinas, diminuindo o risco de erros operacionais.
Para os contadores, essa unificação significa menos interpretações distintas e mais foco no controle, análise e validação dos dados.
Saiba como um ERP é essencial durante a transição da Reforma em: “Reforma Tributária: é possível calcular IBS, CBS e IS no ERP?”.
Créditos automáticos e não cumulatividade plena
No novo modelo do IBS e da CBS, os créditos passam a ser amplamente permitidos, eliminando grande parte das discussões atuais sobre o que pode ou não ser creditado no PIS e Cofins.
A não cumulatividade plena garante que o imposto incida apenas sobre o valor agregado em cada etapa, reduzindo a tributação em cascata e simplificando a apuração.
Os créditos serão gerados automaticamente com base nas aquisições de bens e serviços utilizados nas atividades da empresa, o que exige maior organização dos documentos fiscais e controle das operações para assegurar o seu correto aproveitamento.
Com dados mais consistentes e regras claras, o processo ganha eficiência e reduz riscos de glosas e autuações.
Com isso, o contador deixa de dedicar tempo excessivo à interpretação de normas e passa a atuar com foco na gestão estratégica dos tributos, otimizando custos e fortalecendo a conformidade tributária da empresa.
Extinção do ICMS? Entenda aqui: “Quando o ICMS será extinto?”.
Novos códigos fiscais e parametrização do ERP
Novos códigos fiscais, novas naturezas de operação e novos tratamentos para créditos e débitos precisarão ser configurados para que o ERP reflita corretamente as regras do modelo pós-Reforma para o IBS e a CBS.
Será necessário atualizar cadastros de produtos, serviços, NCMs, CFOPs e CSTs, além de adequar a lógica de cálculo de tributos aplicável a cada etapa da cadeia produtiva.
É fundamental analisar cada NCM (Nomenclatura Comum do Mercosul) e tipo de serviço para vincular ao CST e o cClassTrib corretos, que estão interligados e determinam a operação fiscal (tributação integral, redução, diferimento etc.).
Como o período de transição exigirá a convivência entre o regime atual e o novo, muitos sistemas terão que operar em duas modalidades simultaneamente, aumentando a necessidade de testes e validações rigorosas.
Esse cenário exige uma forte integração entre os setores de contabilidade, fiscal, compras, vendas e tecnologia da informação, já que as mudanças impactarão diretamente a forma de emitir notas, registrar operações e calcular tributos.
Uma parametrização inadequada dos sistemas pode gerar inconsistências na escrituração, aproveitamento incorreto de créditos e riscos de autuações, além de retrabalhos operacionais.
Como o contador deve se preparar para as mudanças
O contador precisará assumir um papel de liderança, orientando, revisando processos e planejando a execução do projeto de transição.
Recomendações práticas:
- Revisar cadastros fiscais
- Participar de treinamentos técnicos
- Conhecer o cronograma de transição
- Criar plano de adequação do ERP
- Desenvolver indicadores fiscais de controle
- Suportar o time na conciliação de créditos
Não acompanhar essa evolução significa:
- Riscos regulatórios
- Perda de competitividade
- Erros fiscais com impacto financeiro
Contador, acompanhe também o CertClick: “Reforma tributária para o contador: cronograma, rotinas e entregáveis por fase”.
H3. Ajustes nos processos de emissão e validação de notas fiscais
Os processos precisarão ser:
- Mais digitais
- Mais automatizados
- Mais auditáveis
A validação fiscal prévia ao faturamento ganha protagonismo. Evitar divergências na origem é a maior proteção contra penalidades.
Formalizar operações será obrigatório: sem nota, sem crédito.
Leia no ClickNotas: “Rejeição da nota fiscal: guia completo e principais tipos”.
Integração contábil-fiscal e atualização de sistemas
A integração entre o contábil e fiscal será um ponto chave para as empresas.
Como os novos tributos exigirão parametrizações específicas e controle preciso de créditos e débitos, as informações precisam fluir de maneira consistente entre faturamento, compras, estoque, contabilidade e ERP.
A atualização dos sistemas será um dos pilares dessa transformação. Os softwares de gestão deverão contemplar novos campos e códigos fiscais, além de permitir a convivência simultânea entre o regime atual e o modelo pós-Reforma.
Isso significa que parametrizações incorretas ou falhas de comunicação entre departamentos podem gerar lançamentos inconsistentes, créditos perdidos ou expostos a glosas e penalidades.
Mais do que tecnologia, essa adaptação exige processos bem definidos, treinamento contínuo e alinhamento entre as equipes envolvidas.
A automação terá papel importante para reduzir erros operacionais e garantir a rastreabilidade das informações, mas somente funcionará de forma eficiente com uma base de dados organizada e integrada.
Assim, a modernização dos sistemas e a coordenação entre áreas tornam-se essenciais para assegurar uma transição segura e para que o novo modelo tributário seja absorvido com eficiência e conformidade.
Capacitação técnica e acompanhamento das leis complementares
A Reforma Tributária inaugura uma nova etapa de responsabilidades para os profissionais de contabilidade, que precisarão se manter atualizados continuamente.
Embora os conceitos centrais do IBS e da CBS já estejam definidos, as regras operacionais ainda serão detalhadas em leis complementares, resoluções e normas publicadas pelos entes federativos ao longo da transição.
Isso torna o acompanhamento legislativo uma atividade essencial da rotina contábil nos próximos anos.
Sendo assim, a capacitação técnica constante torna-se um diferencial competitivo. Participação em treinamentos, cursos especializados, leitura de blogs, eventos técnicos e grupos de estudo permitirá que o contador antecipe impactos, compreenda cenários e prepare as empresas com maior segurança.
Além disso, a leitura crítica de Notas Técnicas, atualizações do SPED e comunicados dos fiscos será fundamental para ajustar processos com agilidade.
Mais do que apenas cumprir obrigações, o contador passa a atuar como consultor estratégico, orientando gestores nas decisões que envolvem precificação, créditos, estrutura comercial e planejamento tributário.
Quanto mais cedo e mais qualificado for o preparo, menores serão os riscos e maiores os ganhos diante do novo sistema de tributação.
Tire suas principais dúvidas aqui: “Reforma Tributária: todas as perguntas respondidas”.
Conclusão: o papel estratégico do contador na transição tributária
A Reforma Tributária inaugura um novo capítulo para a contabilidade no Brasil.
Mais do que cumprir obrigações fiscais, o contador assume uma função central na preparação das empresas para um modelo tributário mais moderno, digital e padronizado.
Sua atuação será determinante para garantir uma transição segura, com controle sobre créditos, adaptação dos sistemas, revisão de processos e conformidade contínua com as novas regulamentações.
O período de convivência entre dois regimes exigirá elevada capacidade de gestão e planejamento, reforçando o papel do contador como líder técnico e consultor estratégico.
Quanto mais antecipada e estruturada for essa preparação, menores serão os riscos de autuações, retrabalhos e impactos negativos no fluxo operacional e financeiro das organizações.
Assim, o profissional de contabilidade torna-se protagonista dessa transformação: guiando empresas, apoiando decisões comerciais e contribuindo para que o novo sistema tributário, mais simples, transparente e eficiente, se estabeleça de forma sólida, garantindo competitividade e segurança jurídica no mercado brasileiro.